Ontem tivemos mais duas palestras sensacionais com a
psicanalista Cassandra França e o psicólogo especialista em psicofármacos
Amadeu Roselli Cruz.
Com a professora Cassandra conversamos sobre Sexualidade Infantil. Na infância os pais precisam narcisar o
corpo do filho, e nesse momento não há uma separação entre esses corpos. “O
Bebê mama de um seio que ele é. A mãe alimenta um bebê que é ela.” É dentro
dessa simbiose que inicia a sexualidade infantil. A marca que todos
nós vamos trazer desse processo inaugural começa na amamentação, que quer seja
ela feita no seio ou na mamadeira, é um momento a dois muito importante que
deve ser feito com atenção total a criança, é um momento para tocar a criança,
olha-la, falar com ela, e não simplesmente amamentar enquanto vê TV ou faz
qualquer outra coisa. Importante acontecimento para o desenvolvimento infantil
e que costuma ser difícil para as mães é também o desmame, que irá separar o
corpo do bebê do corpo da mãe, mostrando que ambos não são um só. Outra
importante fase é quando a criança está deixando as fraldas. O coco e o xixi
são a primeira produção da criança, já que o leite não vinha dela, mas do corpo
da mãe. E, por ser dela e ter o controle, entra num movimento ambivalente entre
querer e não querer dar o que seu corpo produz. Mães muito ansiosas que tratam
os filhos com mimos excessivos ou o contrário, crianças que passam pelo excesso
de frustrações, podem apresentar dificuldade nessa fase. Já na fase fálica, a
criança percebe que não é o centro do mundo, e é importante que receba limites
dos pais. Nessa fase também é natural que a criança queira exibir o que tem, se
tocar, olhar, explorar, tem curiosidade, faz jogos (exemplo, é comum ouvirmos
de uma criança: “mostro minha calcinha e você mostra a sua”). É uma sexualidade
onde, entretanto, não existe a genitalização.
Aquele que não teve um adulto cuidador, alguém
que chame com carinho, através do olhar, do toque, terá prejuízos em seu
desenvolvimento e em sua vida adulta.
Palestra com Cassandra França |
Com o professor Amadeu conversamos sobre Psicofarmacologia
Infantil. Para pensarmos em psicofármaco temos que
ter um bom conhecimento em desenvolvimento. Por exemplo, é natural que a
criança fantasie, tenha um amigo imaginário, isso não seria caso para
medicação, embora ocorra. E, para medica-las é preciso ter em mente a
diferença entre elas, nem irmãos gêmeos tem o mesmo desenvolvimento. Quem
quer trabalhar com a infância tem que ter um bom conhecimento de desenvolvimento
infantil. A psicopatologia para o adulto é antiga, já a infantil tem apenas 60
anos. Até os anos 50 a criança era tida como um adulto em miniatura. A dose
para elas era sempre duas vezes menor que para o adulto. Esse raciocínio não
é válido, há medicamentos em que a dose para criança é até mesmo maior que para
o adulto, devido ao funcionamento rápido de seu fígado. É muito comum, e também
perigoso, os pais por conta própria alterarem a dosagem da medicação de seus
filhos. Mesmo o uso tão comum das medidas em colher, a quantos ml cada colher
corresponde? Está-se na verdade dando uma dosagem desconhecida.
Assim, acontecem situações como, por
exemplo, a criança está sempre sonolenta e tem baixo rendimento na aula, passando
a ser tida como um aluno preguiçoso, quando o problema na verdade é uma
superdosagem de anti-alérgico. Ou, ainda, receberá uma dosagem de antibiótico
abaixo do necessário e com isso só eliminará as bactérias mais fracas, tendo um
aumento das resistentes. A dosagem de medicamentos dados a uma criança é
importante e devemos estar atentos a isso, sempre buscando e cumprindo
orientações de um bom especialista! Importante pensar também a respeito dos
psicofármacos, é que eles alteram o comportamento, alteram as funções superiores
(cognição, memória, sexualidade, psicomotricidade, são algumas funções que
podem sofrer pelo efeito colateral desses remédios). E, psicofármacos com
efeitos terapêuticos sempre tem efeito colateral. Assim, o uso de uma medicação
também deve ser considerado e avaliado entre a família e um bom profissional,
uma vez que tem efeitos no desenvolvimento da criança.
Palestra com Amadeu Roselli Cruz |